quarta-feira, 1 de março de 2017

BREVE HISTÓRIA DE DIAS D'ÁVILA




Dias D’Ávila.
Por Fernando Gimeno

Introdução

Depois de tanto tempo decorrido desde a emancipação do município de Dias D’Ávila, a memória dos fatos vai ficando cada vez mais distante, fraca e perdida, nos meandros do passado.
Hoje (2017) temos apenas três pessoas na cidade que participaram efetivamente de todo processo emancipatório que se arrastou por mais de cinco longos e exaustivos anos. Tempo árduo nos quais os ativos e incansáveis heróis da Sociedade Amigos de Dias D’Ávila percorreram os gabinetes e repartições do governo alisando os bancos do poder atrás do sonho de criar uma cidade, provando dessa forma, que sonhos podem sim, transformar-se em realidade.
E por esse feito, após legarem para a posteridade uma cidade que se encontra entre as grandes estrelas da constelação baiana, em lugar de reconhecimento recebem críticas, ataques e difamações de alguns que teimam em ver na emancipação material de segunda, cuja finalidade serve, apenas, para suprir seus anseios políticos. Ainda bem que isso surge através de uma minoria que se apoia em posicionamentos pessoais; pensamentos, aliás, que toldam a visão tal e qual os antolhos o fazem com azêmolas teimosas.
O pior é que essas críticas vêm na maior parte, através de pessoas que não residiam por aqui naquela época... ou que residiam, mas por opção ou omissão não participaram... e outras, ainda, que inventaram estórias a seu bel prazer a fim de modificarem a história para que essa lhes seja conveniente e caiba dentro de seus incomensuráveis egos, pois como diz o jargão popular “o invejoso emagrece de ver a gordura alheia”.
Como sou um dos remanescentes junto com Gilson Galvão de Souza e José Osmar Muricy Sampaio, propus-me a contar aquilo que sei do processo do qual participei ativamente desde o seu principio até o desfecho final. Farei, então, um breve relato; mas para isso preciso voltar no tempo para estabelecer uma linha que nos dê a possibilidade de revermos as origens de nosso município.

Primórdios

Logo após o descobrimento, Portugal dividiu a nova terra em grandes porções que iam do litoral ao interior e distribuiu-as entre seus fidalgos para cultivá-las de forma a fixar o progresso e produzir riquezas para a coroa. Foram as capitanias hereditárias, modelo que havia dado bons resultados na Ilha da Madeira e se pretendia que repetisse seus efeitos benéficos e suas implicações nas terras d’além mar.
Na Bahia, como na maior parte do Brasil, tal protótipo havia sido um completo fracasso. O antigo donatário da Capitania, Francisco Pereira Coutinho, homem de “maus bofes”, violento e rude, fundara uma pequena aldeia na Ponta do Padrão que se estende ao mar — onde atualmente está instalado o Farol da Barra — e batizou-a como Vila do Pereira; isso se deu em dezembro de 1536.
Mas os portugueses, tanto o Pereira que era o proprietário da sesmaria, quanto os colonos que habitavam a vila eram cruéis em demasia com os indígenas da tribo Tupinambá, silvícolas que ocupavam todo o território das Capitanias da Bahia. Isso, com certeza, resultava num frequente levante dos índios que culminou, em 1545, com a destruição da Vila do Pereira e a fuga do donatário Francisco Pereira Coutinho para a Capitania de Porto Seguro, ao sul.
Um ano mais tarde Pereira Coutinho tentou voltar para suas terras, mas naufragou próximo à Ilha de Itaparica e foi capturado sendo, posteriormente, devorado pelos Tupinambás que adoravam ter carne fresca de portugueses em sua dieta.
Com a morte de Pereira Coutinho que não deixou herdeiros, a Capitania da Bahia voltou à Coroa Portuguesa e foi escolhida por D. João III, rei de Portugal, para sediar o governo que ele pretendia implantar no Novo Mundo. Naquela época as costas brasileiras eram muito visadas, principalmente pelos franceses que extraiam o Pau Brasil para vendê-lo com grande lucro no mercado europeu, visto a grande utilidade de tal produto no fabrico de corantes.
E aí chega a vez de Tomé de Souza.
Segundo fontes históricas, este fidalgo era descendente de Martim Afonso Chichorro[1] e filho bastardo do prior de Rates, João de Sousa, e Dona Mécia Rodrigues de Faria. Martim Afonso Chichorro era um homem rico e nobre da casa real portuguesa, tendo sido governador de Chaves. Casou-se com D. Inês Lourenço de Sousa, filha de Lourenço Soares de Valadares, senhor de Tangil, fronteiro-mor de Entre Douro e Minho, e de sua mulher D. Maria Mendes de Sousa, filha de Mem Garcia de Sousa e de D. Teresa Anes de Lima, em que estava a primogenitura dos Sousas. Martim Afonso Chichorro é o tronco da família dos Sousas da Casa dos Marqueses das Minas[2].
Tomé de Sousa foi o primogênito de João de Sousa, abade de Rates, lugarejo cerca de cinquenta quilômetros acima do Porto. João de Souza que seguiu a vida eclesiástica usufruiu de momentos muito mais materiais e dissolutos do que espirituais, pois teve com Mécia Rodrigues de Faria, mulher nobre dos Farias de Barcelos, mais de dez filhos. Em Rates, Tomé de Sousa foi o primeiro titular da comenda da Ordem de Cristo em 1517. Foi ainda comendador de Rates e de Arruda.
Criado o governo geral como forma de incrementar a presença estatal portuguesa no Brasil e apoiar os donatários das outras capitanias, o Rei nomeou Tomé de Souza governador-geral com amplos poderes para consertar a colônia que se encontrava em estado extremo de desorganização. O novo governador trouxe com ele as credenciais que compunham o Regimento de 17 de dezembro de 1548, com orientações precisas sobre a organização do poder público — fazenda, justiça, defesa, ordens expressas para fundação de uma capital e poder de decisão sobre temas relevantes, como as relações com os indígenas e sua catequese e o estímulo às atividades agrícolas e comerciais.
Para dar cumprimento às ordens reais, o Governador-geral trouxe consigo uma armada importante constituída por três naus, duas caravelas e um bergantim, além de algumas embarcações para transportar o Pau Brasil traficado para o velho continente.
Estima-se que chegaram com o governador cerca de mil almas, entre soldados, profissionais de serviço, jesuítas com a missão de catequizar os indígenas... esses últimos comandados pelo padre Manoel da Nóbrega; vieram ainda degredados e peões para o trabalho pesado no Novo Mundo.
Dentre as ordens do rei figurava também a fundação de uma cidade. Tomé de Souza desembarcou na Ponta do Padrão onde outrora florescera a Vila do Pereira e, a vinte e nove de março de 1549, fundou Salvador, que já nasceu com o status de cidade, capital, comarca e sede do governo da província.
Desde sua descoberta em 1501, a Baia de Todos os Santos era considerada ponto estratégico devido ao seu posicionamento geográfico e ao escoamento do pau Brasil muito abundante pelas cercanias. Mas o principal fato que dava à região uma vantagem era a fixação de um ponto de apoio aos portugueses. Para cumprir tal objetivo foi de fundamental importância a presença do Caramuru, um português ligado aos Tupinambás que, por entender o dialeto indígena fazia o papel de intérprete ou, como se falava na época “lengoa”, fato que facilitava muito a comunicação entre as duas raças.

Diogo Álvares Correia, o Caramuru.

Quase todas as enciclopédias, compêndios de história e referências à colonização brasileira passam invariavelmente pela figura de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Existem muitas lendas ligadas à presença deste personagem entre os índios do Brasil.
O navio em que Diogo viajava por volta de 1509[3], naufragou próximo à Baia de Todos os Santos, na região da Maraquita — mais ou menos em frente ao local onde atualmente se encontra o Largo da Mariquita, no Rio Vermelho. Diogo e mais alguns náufragos conseguiram alcançar a terra, mas seus companheiros foram mortos — e possivelmente devorados — pelos ferozes Tupinambás, que eram, na verdade, os donos da terra.
Conta-se que o apelido Caramuru veio porque, apavorado com a iminente prisão pelos indígenas, Diogo escondeu-se nos recifes da costa. Lá os índios o acharam, pálido de medo e ao verem seu rosto entre as pedras riram-se muito e logo o apelidaram Caramuru, palavra que nominava a moreia, peixe que se esconde nas pedras. Outra lenda diz que Diogo estava na praia com uma escopeta salva do naufrágio e atirou em um pássaro. Os índios que presenciaram esta cena imediatamente gritaram Caramuru, que também pode significar filho do trovão.
O fato é que Caramuru foi aceito entre os Tupinambás e tornou-se de grande importância na colonização do Brasil. Após algum tempo casou-se com Paraguaçu ou Guaibim-Pará (Mar Grande), a filha do morubixaba Taparica. Com ela teve filhos e filhas dos quais provém a maior parte das famílias brasileiras.
Caramuru facilitava o contato entre os europeus e brasileiros, principalmente franceses que vinham atrás do pau Brasil, riqueza da qual nossa terra era bastante espoliada a ponto de ter seu nome mudado de Terra de Santa Cruz para Brasil. Essa relação com os franceses fez com que Jaques Cartier, corsário francês — que mais tarde viria a descobrir o Canadá — o levasse e à índia Paraguaçu para a Europa, entre 1526 e 1528, onde, em Saint-Malo, na França os dois uniram-se em matrimônio. Paraguaçu foi batizada como Catherine Du Bresil, em homenagem à madrinha Catherine de Branches[4], esposa de Jaques Cartier. Na volta ao Brasil ficou conhecida como Catharina Paraguaçu Caramuru.
Aqui vale a pena criarmos um espaço para falar dessa figura notável que foi Catharina Paraguaçu. Para tanto nos guiamos numa viagem através do texto da obra “Diogo Alvares, o Caramuru, de Ubaldo Marques Porto Filho”. Nela nos inspiramos para uma narrativa livre e adaptada, um pequenino resumo, não literal, porém em conformidade com o original:
A lenda conta que em 1535, Catharina Paraguaçu, que era dada a visões e presságios, principalmente em relação a náufragos na costa, teve, em sonho, a visão de uma mulher branca com uma criança no colo que lhe solicitava uma ajuda, dizendo que se achava em uma embarcação que naufragara nas proximidades da costa. Baseados nisso, pois tanto Taparica quanto o Caramuru confiavam cegamente nas profecias da índia, foram direcionadas diversas buscas pelo litoral, desde o Rio Vermelho até à entrada da barra e a costa da ilha de Itaparica; nada foi encontrado!
Catharina voltou a ter o mesmo sonho e Caramuru saiu para novas explorações, dessa vez no litoral sul. Na Ilha de Boipeba, deparou-se com 17 sobreviventes da nau Madre de Dios, que afundou em maio de 1535, nas proximidades de um local que ficou conhecido como Ponta dos Castelhanos. Mas os náufragos informaram-lhe que na embarcação não viajava nenhuma mulher.
Retornando para casa a esposa insistiu que ele voltasse ao local do naufrágio e procurasse novamente. Nessa segunda visita aos restos da nau foi achada entre os destroços uma imagem de madeira de Nossa Senhora com o Menino Jesus nos braços. Quando Caramuru chegou com tal objeto, Catharina imediatamente reconheceu a imagem como a da mulher por ela vista nos sonhos.
Atendendo a mais um pedido da esposa, Caramuru construiu uma capela de taipa, com cobertura de palha, para abrigar a imagem da Virgem Maria. Estava assim, em 1535, erguida a primeira igreja do Brasil, onde foi oficiada, em 31 de maio de 1549, pelos padres jesuítas da comitiva de Thomé de Souza, uma missa que contou com a presença do governador-geral.
Catharina jamais aprendeu a falar bem o português. Preferia comunicar-se sempre em tupi. Não demonstrava qualquer interesse pela língua daqueles que ela considerava usurpadores das terras dos Tupinambás. Quando esteve na França por ocasião de seu casamento e batizado, aprendeu um pouco o francês bretão e assimilou dois hábitos do povo branco europeu: a religião católica e o vestuário. Por tal motivo estava sempre recatadamente vestida, ao contrário de muitas índias que continuavam adeptas da nudez total.
O amor entre Catharina e Caramuru foi decantado inúmeras vezes como um dos mais fortes laços entre dois cônjuges de raças diferentes. Vivia cercada por mordomias e pequenos mimos proporcionados por Caramuru. Na verdade, ela era uma índia muito especial, tanto que, após o regresso da França, o marido não teria tido mais nenhum envolvimento amoroso com outras índias apesar de ser um costume do povo tupinambá. É quase certo que Caramuru realmente cumpriu os votos de fidelidade proferidos na França, onde se casou com Catherine du Brésil no ritual católico, em solenidade realizada em Saint-Malo.
Garcia D’Ávila, um pioneiro.

Fazia parte da comitiva do governador-geral o jovem Garcia D’Ávila, com apenas vinte e um anos. Era filho bastardo de Tomé de Souza, apesar de nunca ter se identificado como tal, pois havia uma lei da coroa proibindo a qualquer capitão-mor ou governador de doar sesmarias a seus familiares.
Em primeiro de junho de 1549, Garcia D’Ávila foi nomeado por Tomé de Souza “feitor e almoxarife da cidade de Salvador e da alfândega”. Era um cargo sem remuneração arriscando-se o serventuário a viver dos “azares” do negócio, de acordo com perdas e lucros que pudesse vir dali. No dia quinze de junho o jovem almoxarife recebeu seu primeiro pagamento: duas vacas no valor de quatro mil reis. Essas vacas tiveram na vida de Garcia D’Ávila o efeito multiplicador semelhante à moeda número um do personagem dos quadrinhos da Disney, tio Patinhas.
Garcia trabalhou duro na construção da cidade do Salvador e instalou um curral na península de Itapagipe com o intuito de abastecer de carne a cidade nascente. Em paga de seu inegável esforço em prol da cidade, Tomé de Souza doou-lhe quatorze léguas de sesmaria que iam desde Itapuã até a foz do Rio Real e a ponta de Tatuapara onde, num promontório, erguia-se uma pequena fortificação. Ali naquele local, cercado de indígenas hostis, Garcia D’Ávila, após vencer os selvagens, ergueu a sua “Casa da Torre”, em 1550, uma fortaleza feita com pedras e rejuntada com argamassa de calcário e óleo de baleia. Suas ruínas persistem até hoje no município de Mata de São João, na Praia do Forte, tombadas pelo Instituto Geográfico e Histórico de Salvador.
Em 1557, Garcia era o homem mais poderoso da Bahia. Bandeirante audaz foi aumentando o feudo no qual estabeleceu o regime de “morgadio” frequente em Portugal, que determinava como herdeiro o filho primogênito. No final do século XVI, já era proprietário do maior latifúndio do Brasil e suas terras imensuráveis iam, desde o rio Itapicuru, ao norte, até o rio Jacuípe ao sul. Seu herdeiro foi seu neto Francisco Dias d’Ávila Caramuru, primogênito de sua filha Isabel D’Ávila nascida de sua união com a índia Francisca Rodrigues; Isabel casou-se com Diogo Dias, filho de Vicente Dias e Genebra Álvares e neto de Caramuru e Paraguaçu[5]. Da saga de Caramuru originou-se a primeira família brasileira documentada; essa família entrelaçou-se na progênie de Garcia D'Ávila com a índia Francisca Rodrigues e na sucessão de Jerônimo de Albuquerque com a índia Muira-Ubi, batizada como Maria do Espírito Santo Arcoverde. Seus herdeiros e sucessores vincularam-se à nobreza dos Pereiras e dos Marinhos, aos descendentes de Domingos Pires de Carvalho casado com Maria da Silva, à geração de Felipe Cavalcanti casado com Catharina de Albuquerque e com a descendência do casal José Pires de Carvalho e Tereza Vasconcellos Cavalcanti de Albuquerque, dando origem a boa parte da população nordestina e a algumas das mais importantes famílias da Bahia e do Brasil, com prolongamentos nas cortes europeias e na Casa Imperial Brasileira[6].
Como exemplo, desse entrelaçamento com a coroa vimos no século XIX, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, que na época da Independência do Brasil, recebeu de D. Pedro I o título nobiliárquico de primeiro e único Visconde de Pirajá, pela sua participação como comandante das forças da resistência baiana ao domínio Português. Ao mesmo tempo seu irmão Antonio Joaquim Pires de Carvalho, morgado do Castelo da Torre, foi agraciado com título de Barão da Torre. Uma curiosidade interessante: as duas principais avenidas do famoso bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro, chamam-se Barão da Torre e Visconde de Pirajá.
A “Casa da Torre” expandiu-se e virou um imenso feudo, talvez o maior latifúndio do qual se tenha notícias no Brasil; sua saga encontra-se descrita por vários historiadores brasileiros, principalmente Pedro Calmon, que relata a história da família D’Ávila e de seus descendentes.
Este castelo situava-se em um promontório dominando o mar na ponta de Tatuapara que ficou conhecida, em sua homenagem, como a Praia do Forte, nome que perdura até hoje fazendo parte do município de Mata de São João.
A Companhia de Jesus, da qual faziam parte os padres jesuítas, foi fundada na Espanha por Inácio de Loiola em 1534 e aprovada pelo papa Paulo III em 1540. A Ordem em pouco tempo tornou-se uma potência capaz de fazer sombra a até mesmo ao papa — o prior dos jesuítas chegou a ser cognominado o “papa negro” devido ao imenso poder que representava no século XVIII em vários países da Europa, inclusive Portugal[7].
Em 1549 o Rei D. João III ordenou a vinda dos primeiros padres que desembarcaram com Tomé de Souza, liderados por Manuel da Nóbrega. O maior objetivo era catequizar os índios, uma das obras a que o Rei dava prioridade, pois isso atenderia os propósitos colonizadores e, ao mesmo tempo, garantia uma sociedade religiosa bastante conveniente ao intuito das cortes de além-mar.
Muitos jesuítas vieram para o Brasil, entretanto os mais famosos foram Manoel de Nóbrega vindo com Tomé de Souza, José de Anchieta que chegou ainda noviço com Duarte da Costa, segundo Governador-Geral, e o padre Antônio Vieira que veio muito jovem de Portugal e ordenou-se já morando na Bahia.  
Nossa narrativa, entretanto, vai preocupar-se mais com os Jesuítas anônimos que adentraram o sertão baiano para cumprir suas obrigações de catequese. Por outro lado, muitos colégios fundados pelos Jesuítas permanecem até hoje, como o Colégio Antônio Vieira, em Salvador.
Trazer os índios para a “verdadeira” fé cristã era complicado. Foi uma tarefa difícil para os padres passarem por cima de costumes arraigados dos indígenas, principalmente de pontos de enormes choques de costumes, tais como a nudez, a antropofagia e a poligamia entre outros.
Casa da Torre de Garcia D’Ávila – Ruinas tombadas.
Na Bahia os catequizadores adentravam o sertão nos rastros dos bandeirantes da “Casa da Torre” que iam desbravando as terras que atravessavam o São Francisco e avançavam até as fronteiras do Piauí; esse caminho ficou mais tarde conhecido como “Caminho da Boiada”. Essa entrada dos padres para o sertão era árdua e penosa. Entrava-se pela localidade chamada “Portão”, na foz do rio Joanes, nome que persiste até hoje. As excursões pelo interior do Brasil no século XVI eram assaz complexas e por isso fazia-se necessário houvesse paradas e pontos de apoio para descanso e recuperação de forças na arriscada expedição em busca das tribos a serem catequizadas. Muitos não voltavam vítimas dos inúmeros perigos e doenças a que se expunham em tal aventura.
Por conta dessa necessidade de apoio, os padres foram fundando povoações; em 1558 criaram a aldeia do Divino Espírito Santo às margens do Joanes, que congregava vários índios tupinambás ao redor de uma igreja de taipa, sob o comando do padre João Gonçalves. Essa aldeia foi o primeiro núcleo que, mais tarde deu origem ao município de Camaçari.
Mais ao norte, dentro das terras pertencentes ao Castelo da Torre os padres estabeleceram outro entreposto de descanso à beira do riacho Imbassay, que foi batizado Santo Antônio de Capuame; nesse sítio os catequizadores faziam pouso e se abasteciam de água para fazer face às agruras da perigosa incursão pelo sertão.
Ali, devido à excelente qualidade das águas e das lamas daquele arroio que, já naquela época, revelavam suas propriedades curativas e medicinais, floresceu o povoado de Santo Antônio do Capuame[8]. O fato é que o arraial de Santo Antônio de Capuame passou a ser usado como parada obrigatória, tanto na ida quanto na vinda, pelas comitivas que se aventuravam pelo nordeste e iam para lá do São Francisco a fim de escravizar índios e trazer gado.
Este arraial, mais tarde tornou-se um entreposto e era lá que os boiadeiros chegados do interior trazendo o gado — principalmente as reses de propriedade da “Casa da Torre” com destino aos currais de Itapagipe —, descansavam da extenuante viagem; evidentemente realizava-se no arraial negócios de compra e venda de gado e logo se estabeleceu um comércio, ou melhor, uma importante feira; nela animais que iriam suprir o mercado de carne de todo o litoral baiano eram vendidos, comprados ou trocados; muitas mercadorias do sertão — e também da capital — eram negociadas, tornando-se a feira local importante para a economia regional e intensamente procurada por fazendeiros tanto para adquirir como para vender suas reses.
No início do século XIX, o arraial passou a se chamar “Feira Velha do Capuame” ou, simplesmente, “Feira Velha”.

Feira velha

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Feira Velha assumiu grande importância durante as guerras da Independência, visto sua localização estratégica como feira e entreposto de comércio para as mercadorias que vinham do interior com destino a Salvador.
A Bahia — e principalmente Salvador — não reconheceu a independência proclamada por D. Pedro I a 7 de setembro de 1822.
No início desse ano, D. João VI, rei de Portugal, substituiu o brasileiro Manoel Guimarães do comando da cidade pelo general português Madeira de Melo.
Esse general, homem autoritário e cruel, exibia um patriotismo fanático, tinha ordens de reprimir usando de todos os artifícios e até mesmo da violência extrema, qualquer arroubo de revolta esboçada pelos baianos, pois a população já vivia insatisfeita com o domínio português.
Não aceitando a substituição de um brasileiro por um português, o povo ganhou a rua exibindo seu protesto. Na busca para capturar os rebelados que entraram pelo Convento da Lapa à procura de abrigo, os soldados foram detidos pela Madre Superiora sóror Joana Angélica que barrou a sua entrada no claustro. Enfurecidos atacaram a madre prostrando-a com golpes de baioneta.
A morte dessa primeira mártir pela causa da independência não intimidou os baianos: em 12 de junho de 1822 a Câmara de Salvador tentou um rompimento com a coroa portuguesa durante uma sessão legislativa. Imediatamente o General Madeira de Melo invadiu a Câmara impedindo a sessão. As tropas portuguesas vão, então, para as ruas e ameaçam a população que se junta em protestos contra Portugal.
Em 25 de junho a Vila de Cachoeira rebela-se e rompe com o reino. Dois dias depois chega a vez de Santo Amaro seguir o mesmo caminho. Os vereadores rebeldes declaram D. Pedro, então Príncipe Regente, o defensor perpétuo do Brasil; convém ressaltar o ingente exemplo da maçonaria que já havia se declarado a favor da independência da colônia através de Gonçalves Ledo, primeiro Vigilante da Loja Comércio e Artes, de Niterói, proclamando, no dia 20 de agosto de 1822 o rompimento definitivo com Portugal.
Entretanto, na Bahia, Cachoeira torna-se o quartel general do exército libertador. Nesta época Vila Velha desempenhou importante papel nas guerras da independência, justamente por causa do comércio de gado. A vila era um ponto importante para o planejamento e apoio das valorosas tropas brasileiras favoráveis ao Imperador e que iam combater os portugueses; por conta de sua posição privilegiada impediu o abastecimento da capital deixando o general português Madeira de Melo sem carne e outros tantos produtos que passavam por aquele sítio estratégico. Com isso a vila contribuiu, e muito, com a consolidação da independência. Esse boicote de gêneros de primeira necessidade enfraqueceu e debilitou o exército português, possibilitando a vitória brasileira e a consolidação de nossa independência, visto que, por mar, João das Botas e sua frota de saveiros fustigavam os lusitanos que ficaram à míngua passando privações pela escassez de gêneros alimentícios.
Finalmente a dois de julho de 1823, após a vitória na batalha de Pirajá, na colina denominada Morro dos Cabritos onde, graças a um corneteiro esperto — ou trapalhão, não sei, — que tocou avançar em lugar de retirada confundindo os portugueses que ganhavam terreno e dando alento aos brasileiros que transformaram uma derrota certa em vitória épica.
Foi neste período que surgiu a figura de Santos Titara, nascido na Feira Velha e autor da letra do “Hino ao Dois de Julho”, composição que se tornou o Hino Oficial da Independência da Bahia.
Também os fidalgos da Casa da Torre, Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, agraciado com o título de Visconde de Pirajá; Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque, agraciado com o título de Barão de Jaguaripe; e Antônio Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, agraciado com o título de Barão e depois Visconde da Torre de Garcia d'Ávila.
Feira Velha continuou sendo o principal entreposto comercial da região até que a feira foi, aos poucos, migrando para o município de Feira de Santana. Hoje a “Princesa do Sertão” é um dos maiores centros comerciais do nordeste brasileiro. 

Estação ferroviária da Feira Velha.
Feira Velha pertencia administrativamente ao município de Mata de São João. Em 1863 foi inaugurada a linha férrea ligando a estação da Calçada, bairro de Salvador, a Alagoinhas. A administração da linha era feita pela Estrada de Ferro Bahia/São Francisco; em 1911 passou a fazer parte da Cia. Chemins de Fer Federaux Du L’Est Brasiliens de capital francês, encampada em 1935 pela Estatal Viação Ferroviária Federal Leste Brasileiro que passou, a partir de 1975 a compor Rede Ferroviária Federal (RFFSA). O último trem de passageiros circulou entre a Calçada e Alagoinhas no início dos anos 80. A partir daí apenas cargas e graneis líquidos ainda passam pela antiga estação.

Borges de Barros

Quando fomos pesquisar a vida de Francisco Borges de Barros, deparamo-nos uma falta de informações muito grande. Infelizmente percorremos várias fontes com pouco êxito. Mesmo como membro da Loja de Pesquisas Maçônicas Francisco Borges de Barros, quando procurei prestar uma homenagem ao excelso fundador da Grande Loja Maçônica Unida da Bahia, esbarrei no pobre conteúdo para uma figura de tão grandes proporções no cenário histórico de nosso estado.
Francisco Borges de Barros
Do que podemos inferir, sabemos que foi diretor do Arquivo Público e do Museu do Estado da Bahia entre 1918 e 1930 e que dirigiu o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Autor de um importante livro, Bandeirantes e Sertanistas Baianos, escrito em 1919, livro este que tem a primazia de ser a primeira obra escrita sobra a Casa da Torre, e que exibe uma coletânea de textos sobre o papel dos bandeirantes baianos na conquista do sertão nordestino onde a Casa da Torre e os Ávila fazem parte da história.
Francisco Borges de Barros não escreve literalmente a saga da família Ávila, mas reportou vários trechos que, segundo ele próprio, poderiam servir a um escritor para fundamentar tão interessante tema. Ele assim nos descreve: “...são lendas e tradições que atravessando os séculos, reclama o pulso de escritor que as revigore no romance e na epopeia. Digno do mais acurado estudo é ― esse velho baluarte como também o é ― o de sua conservação como um dos maiores monumentos deixados por nossos antepassados... ”
Na verdade, Borges de Barros embora não tenha escrito uma obra sistemática sobre a Casa da Torre trouxe a luz importantes documentos que serviram para divulgar ainda mais a fama da família Ávila na conquista dos sertões nordestinos.
Nosso historiador, em 1923 escreveu uma exposição detalhada de motivos enviada à Assembleia Legislativa da Bahia visando a troca de nomes de Feira Velha para Dias D’Ávila.
Borges de Barros apresentou as justificativas para permuta e conseguiu seu intento quatro anos depois, entre as gestões do governador Góis Calmon, que deixou o governo em 1927 e Vital Henrique Baptista Soares, que entrou em 1928.
A lei 2150, que instituiu a troca, foi publicada em 26 de abril de 1928 e, a partir daí Feira Velha passa a chamar-se Dias D’Ávila.
Como dissemos, foi uma homenagem a Francisco Dias D’Ávila II, bandeirante e morgado da “Casa da Torre”. Esse fidalgo, neto de Garcia D’Ávila, filho de Isabel D’Ávila e Diogo Dias foi intrépido bandeirante que descendia de Caramuru pela linha paterna; realizou muitas das ambições do seu avô, então já velho e doente. Em testamento feito no ano de 1609 e que se encontra no Arquivo Público do Estado da Bahia, Garcia D’Ávila arrolou os vastos domínios que  possuía, enumerando terras que vão de Tatuapara aos vales do Tariri, Jacuípe e Itapicuru até Sergipe de El-Rei e, segundo alguns documentos estendeu os domínios da “Casa da Torre” até as fronteiras do Piaui, criando o maior latifundio que se tem noticia na história do Brasil. Referindo-se a ele, Pedro Calmon afirma que “...tangeu as pontas de gado do Itapicuru para o médio São Francisco. Fez do boi seu soldado. Os outros sertanistas se apossavam do país com tropas de guerrilheiros, ele o empalmou com suas boiadas. O rebanho arrastava o homem e, atrás deste a civilização...”[9].
Atualmente ainda se encontra fincado na plataforma da estação um pequeno obelisco comemorativo da troca de nome da cidade, com os seguintes dísticos gravados em uma placa:
 Campo Histórico Dias D’Ávila – O Senado Estadual sob a Presidência do Coronel Frederico A. Roiz da Costa, sendo Governador da Bahia o Doutor Vital H. Baptista Soares e Secretário da Justiça o Doutor Francisco Prisco de S. Paraíso, acolhendo o apelo do Doutor F. Borges de Barros, Diretor do Museu do Mesmo Estado, obteve dos altos poderes da República denominar-se Dias D’Ávila esta estação ferroviária, plantada no campo histórico da grande feira colonial instituída pelos intrépidos bandeirantes da legendária Casa da Torre, cujos feitos esta lápide rememora”.
8 de setembro de 1928”.

Padre Camile Torrend


Com a transferência da feira para o município de Feira de Santana, Dias D’Ávila teve um progresso lento até final da década de 40, quando recebeu novo impulso devido às descobertas do Padre CamileTorrend.
Durante os anos 40 do século XX, chegou a Dias D’Ávila o jesuíta Francês, botânico e naturalista, padre Camile Torrend.
Misto de cientista e religioso ele interessou-se muitíssimo pela geografia da região, estabelecendo-se na vila de Dias D’Ávila que, naqueles tempos pertencia ao município de Mata de São João. O padre Torrend, como era conhecido, classificou inúmeras espécies botânicas nativas ainda não ordenadas cientificamente; em suas investigações, reparando nas propriedades medicinais do rio Imbassay, convenceu-se de sua propriedade terapêutica e, ao consultar antigos alfarrábios dos jesuítas do século XVII, ajuntou informações sobre as águas do rio, coletando-as e enviando-as para a França a fim de serem analisadas em laboratórios europeus. O laudo trouxe o que ele esperava: As águas de Dias D’Ávila tinham propriedades minerais e medicinais, com qualidade superior à de Vichy, uma das mais afamadas do Velho Continente. Isto transformou a vila em local especial de veraneio e estação de águas, tornando seu nome famoso em toda a Bahia e em vários outros estados brasileiros.
Dias D’Ávila constituiu-se, a partir daí, em um balneário dos mais conhecidos e agradáveis e, por sua localização privilegiada perto da capital, encheu-se de belas chácaras nas quais os veranistas vinham descansar da labuta estressante do trabalho na cidade grande.
O trem que trazia na manhã de domingo visitantes de Salvador, era chamado pelo povo de “Pirulito”, um apelido carinhoso, já que os ambulantes transitavam pelos seus vagões anunciavam, em algazarra, suas vendas: “olha o pirulito, olha o pirulito”... e ofereciam o doce caramelizado e envolto em papel de seda. Todos compravam e o “Pirulito” chegava transportando centenas de turistas e veranistas que invadiam a vila em busca de lazer ou cura para suas mazelas... na volta, após o agradável passeio, levava o povo em regresso à estação da Calçada; os passageiros carregavam garrafas e garrafões de água e embrulhos contendo a lama, as famosas argilas de coloração preta ou branca, cada uma delas usada em um tipo de terapia, principalmente doenças de pele. As “lamas” medicinais eram famosíssimas em toda a Bahia e em vários outros estados.

A Estância
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Em 1962, durante o governo Lomanto Junior, Dias D’Ávila foi elevada à categoria de Estância Hidromineral, com as prerrogativas que este título conferia às localidades que o possuíam, ou seja, uma relativa independência do município sede.
Na época a Vila já pertencia a Camaçari após desmembramento de Mata de São João; na verdade, não havia mais do que três a quatro mil habitantes na Estância! Ela era um lugar calmo e próprio para se passar agradáveis férias de verão; não tinha nenhuma infraestrutura, mas quem vinha usufruir de sua tranquilidade não se preocupava com isso. Os moradores locais viviam de trabalhos em função da estância, como caseiros, aguadeiros (que ofereciam água nas residências transportadas em lombo de jegue) ou serviços intermediários. A população quase dobrava com vinda dos veranistas, proprietários das agradáveis vivendas que se espalhavam por ali. E muitas dessas famílias estendiam sua estadia pelos meses de verão ou mais. À noite o povo sentava-se em cadeiras pela “calçada”, em gostosos “bate-papos” e tocava-se violão em serenatas, principalmente nas noites enluaradas. A estância era bucólica e deliciosa, apesar de não ter nenhum dos benefícios modernos que a época oferecia, pois era justamente a tranquilidade e a busca pela saúde as suas principais atrações.
Na década de 60 foram construídos o Hotel Balneário e a fabrica de “Água Mineral Dias D’Ávila”; o hotel, com bangalôs, piscina semiolímpica, sauna, salão de jogos, quadra de futsal e outras comodidades, oferecia excelente estrutura turística. Hoje sentimos imensa pena ao vermos suas dependências próximas ao estado de ruína e, praticamente sem serventia. A fábrica possuía um belo parque ajardinado, uma gruta com uma imagem de Nossa Senhora e uma churrascaria. Todo esse patrimônio construído através do grande cidadão diasdavilense Carlos Gagliano. O parque, atualmente, está abandonado e tomado pelo mato e a churrascaria foi depredada e encontra-se em ruínas.
    

 Agência dos Correios (no mercado municipal)

Aspecto da Praça ACM (1985)
Posto Médico (atual Hospital)
Marco da feira (atualmente não existe)
Rio Imbassay
Rio Imbassay (balneário)


A emancipação

Com a chegada do Polo Petroquímico de Camaçari, a estância hidro-mineral foi perdendo espaço e importância, pois os boatos de poluição e, principalmente “invasão” por pessoas de fora quebrando a tranquilidade da vila, grassavam entre os veranistas e proprietários de chácaras da estância. Isto trouxe desconforto também para os moradores que viam a população aumentar indiscriminadamente e a vila perder a qualidade de vida que era a sua marca registrada. Esse aumento populacional trouxe uma carência efetiva, principalmente nos serviços públicos principais, o que gerou insatisfação com a administração municipal de Camaçari.
As belas chácaras começaram a ser alugadas como “repúblicas” para abrigar os “peões” que chegavam para trabalhar nas inúmeras empreiteiras prestadoras de serviço para a construção do Polo Petroquímico. Vieram também imigrantes, ocupando cargos de chefia, provenientes de outros estados e regiões; estes chegavam com suas famílias e se deparavam com uma vila que não cumpria mais seu papel bucólico de estância e, ainda por cima não possuía qualquer opção de abastecimento, armazéns, farmácias, comércio especializado, butiques e outras lojas de conveniência que propiciam qualidade de vida a uma localidade. Não havia água encanada, nem telefone... as compras, em geral, dependiam de Salvador... colégio para os filhos era muito deficiente, não havia segundo grau, somente um posto de saúde completamente desaparelhado e ineficaz, com escassez de médicos... de professores... Enfim, Dias D’Ávila era bucólica quando se prestava ao veraneio, mas abandonada pela administração municipal quando se precisava morar ali... um distrito cuja a sede também passava por problemas semelhantes aos seus. Por isso tinha dificuldade em fixar aquelas pessoas que estavam chegando; a maioria optava por residir em Salvador, mesmo tendo que viajar por uma estrada perigosíssima, como a BR 324, naquele tempo com apenas uma pista e chamada “a rodovia da morte”.
No final dos anos 70 e inicio dos 80, surgiu na estância uma associação de moradores, denominada Sociedade Amigos de Dias D’Ávila, formada por cidadãos que queriam, além de trazer benefícios vários para a vila, promover também a emancipação política e administrativa do município; o objetivo era transformar Dias D’Ávila em uma cidade próspera e independente da administração de Camaçari. Integravam essa Sociedade, os seguintes moradores: Dr. Mozart da Cunha Pedroza, falecido; Professora Altair da Costa Lima, falecida; Lucas Evangelista dos Santos, falecido; professor Batista Neves, falecido; deputado Clodoaldo Campos, falecido, Flávio Cavalcante de Oliveira, falecido; Mário dos Santos Padre, falecido; professora Laura Folly, (?); Fernando Gimeno, José Osmar Muricy Sampaio e Gilson Galvão de Souza; estes três últimos os remanescentes vivos da Sociedade Amigos de Dias D’Ávila residentes na cidade; sem nenhuma dúvida a Sociedade foi a grande antena captadora dos anseios populares pela emancipação. Esse desejo estava latente no povo, embora não aflorasse dele à primeira vista.
As primeiras conquistas da Sociedade, foram a implantação da 25ª DP, delegacia com as mesmas prerrogativas daquelas da capital, fato que, na década de 70 era bastante incomum nas cidades interioranas de pequeno porte e, muito mais ainda, num distrito abandonado. A Sociedade trouxe ainda uma maternidade que funcionava na Rua Boa Esperança (e que depois foi fechada) e fixou o ponto do ônibus na padaria do centro, hoje Dias D’Ávila Delicatessem.
No início dos anos 80 havia um administrador da estância ligado ao governo do estado; a prefeitura de Camaçari, através do Secretário de Planejamento, José Mascarenhas, praticamente extinguiu a Estância situando-a geograficamente, isto é, estabelecendo seus limites com apenas duzentos metros a partir da margem do rio. O resto pertencia ao distrito, ou seja, a Camaçari. Essa situação esdrúxula mostrava discrepâncias tais como situar a varanda do Hotel Suez na estância e sua cozinha no distrito. Isto gerava também dois administradores: um do estado que só governava os duzentos metros e outro municipal para o restante do distrito. No exemplo do Hotel, como piada dizia-se que um administrador cuidava da varanda e outro da cozinha!
A luta pela emancipação da Vila, não foi fácil! O primeiro obstáculo, conforme falei acima, veio com a falta de interesse que muitos moradores demonstravam pela emancipação, visto tratar-se de uma população onde mais de noventa por cento era flutuante, formada por trabalhadores do Polo que vieram para passar pouquíssimo tempo e sem a vontade de criar raízes. Alguns riam, argumentando que Camaçari jamais abriria mãos do distrito e que lá corria dinheiro, e dinheiro é que é importante, já que a sede começava a auferir os ganhos oriundos de suas indústrias.
Numa reunião que participei, o prefeito Humberto Ellery, biônico e a doze anos no poder, quando arguido por mim sobre a emancipação, declarou:
— Meu caro Fernando, todo o filho quando chega aos dezoito anos quer ter vida própria e, por isso contesta os pais; mas não tem emprego nem dinheiro e, portanto, depende da família e não pode sair de casa. Dias D’Ávila é esse filho!Não tem recursos! A cidade começa no Entroncamento e termina na linha do trem; portanto não tem dinheiro. Uma pena!
Agradeci seu comentário, mas contestei-o dizendo que “apesar de tudo continuaria a lutar pela emancipação, pois preferia ser cabeça de rato a rabo de leão”.
  De 1979 a 1984 foram cinco anos de muito trabalho, decepções, vitórias e derrotas! Algumas vezes chegamos a desanimar, mas o otimismo de Mozart nos contagiava e recuperávamos as forças e continuávamos a luta! Nesse período tivemos muitas reuniões, principalmente eu, Mozart, Lucas e Gilson; nós formávamos o núcleo mais interno da Sociedade e nos juntávamos, praticamente, em todos os finais de semana! Eram longas horas de conversas e tentativas de encontrar estratégias capazes de nos dar um alento renovador das esperanças. Cada semana havia um fato novo, uma expectativa, uma probabilidade de alcançar o objetivo, mas o tempo passava e nossos castelos ruíam um atrás do outro.
A romaria pelos gabinetes em busca de apoio, de condições econômicas para o pretenso município, marcaram os momentos dramáticos pelo qual passou a Sociedade Amigos de Dias D’Ávila e seus membros. A negativa governamental dizendo que “o polo era intocável e pertencia a Camaçari” tornavam inviáveis os objetivos dos Amigos de Dias D’Ávila; isso também estava atrelado à má-vontade dos políticos, principalmente os aliados de Ellery que não viam com bons olhos tal escolha. Mas isso não esmoreceu aqueles valorosos idealistas que pretendiam envidar todos os esforços para concretizar seu sonho. Era a luta de um punhado de homens e mulheres, sem apadrinhamento político contra o forte governo estadual, seu representante ACM e a prefeitura de Camaçari que já era uma força no estado. Mas esse “grupinho” era ousado e não se deixava abater...
O primeiro passo era estabelecer limites para o território da futura cidade!
Cumprindo a ordem governamental de deixar o Polo Petroquímico para Camaçari, começou a formar-se no âmago da Sociedade a ideia de anexar a Caraiba Metais que estava sendo construída com intento de criar-se o polo do cobre. As opiniões da época consideravam tal empresa uma utopia, um elefante branco... e aí foi de grande valia a opinião do Dr. Raimundo Brito, que era o presidente da estatal que, com grande boa-vontade nos recebeu e incentivou atestando que a Caraiba renderia em ICMS uma quantia superior de um milhão de dólares mensais. Isso foi em 1983.
Sabido isso, o segredo precisava ser ― e foi ― guardado a sete chaves; o grupo interno apressou-se a mapear a região e ratificar os limites do município para incluir a Caraíba em seu território. Feito isso o grupo apressou-se a procurar o IBGE para definir as marcas limítrofes, com Camaçari, Mata de São João, Simões filho e São Sebastião do Passé. Como se pode perceber, era uma tarefa complicadíssima, envolvendo vários municípios; e tudo isso sem deixar que a prefeitura de Camaçari percebesse a manobra.
E foi assim que alguns dos “Amigos” assumiram a responsabilidade dessa ratificação e de percorrer a região determinando as fronteiras da futura cidade. A tarefa comportava muitos cuidados! Havia diversos interesses políticos e econômicos em jogo! Até hoje existem críticas e insatisfações — principalmente de pessoas que não participaram do processo e, portanto, não o conhecem — sobre o porquê de o município não ter ficado com alguma praia, um pedaço da orla ou mais indústrias...  Entretanto, o que ninguém sabe, é que a Sociedade Amigos de Dias D’Ávila precisou trabalhar em surdina, à socapa, em silêncio absoluto, tal a preocupação em não deixar extravasar as suas intenções para os assessores de Ellery. Lembre-se, eram pouco mais de dez pessoas contra os dois maiores governos estabelecidos da Bahia: O governo do estado e a prefeitura de Camaçari.
Muitos dos deputados que votariam a ratificação dos limites possuíam lotes na Estrada do Coco (que ainda não existia) e interesses na orla ligados a Camaçari. A Goes-Cohabita era detentora de grandes áreas destinadas à investimentos imobiliários para quando a estrada ficasse pronta. Qualquer vacilo na delimitação da área implicaria na não aprovação do projeto, que deveria, por sua vez, despertar o mínimo rumor na opinião pública. Caso Camaçari “sequer sonhasse” com o que estava sendo feito sem o seu conhecimento, iria por água abaixo qualquer fantasia de emancipação. O prefeito Humberto Ellery, ligado ao comando militar da revolução, ele próprio pertencente às forças armadas, correligionário do governador ACM, estava no poder havia doze anos, pois não existia eleição em áreas de segurança nacional; ele não tinha a mínima intenção, é lógico, de deixar Dias D’Ávila libertar-se do jugo de Camaçari; na época a prefeitura mantinha uma íntima parceria com o governo e com a Assembleia Legislativa, pois o plano-piloto que contemplava as cidades circunvizinhas ao Polo Petroquímico estava sendo elaborado pelo COPEC (hoje SUDIC), órgão do governo estadual; o departamento jurídico da prefeitura prestava atenção aos mínimos detalhes que pudessem prejudicar a cidade, que se tornaria a grande potência de hoje, abrigando a maior obra já realizada no estado: o Polo Petroquímico.
Era a luta do tostão contra o milhão! O poder público estabelecido, sem intenção de abrir mão de seus interesses, contra aqueles homens ousados e imbuídos de um sonho, sem respaldo político ou econômico!
O projeto da ratificação, depois de elaborado pela Sociedade Amigos de Dias D’Ávila e ser registrado no IBGE, entrou na Assembleia Legislativa pelas mãos do falecido deputado Clodoaldo Campos, a quem nosso município muito deve. Ele foi, na verdade, um dos poucos políticos que nos apoiou nessa luta. O projeto não incluía em seu bojo nenhuma praia! E tampouco qualquer pedacinho de terra capaz de suscitar uma polêmica e barrar o escopo final. Infelizmente o deputado Clodoaldo Campos, que era do PMDB — naquela época só existia cinco partidos, PDS, PMDB, PDT, PTB e PL — disputou as eleições de 82 concorrendo ao cargo de suplente de senador na chapa de Waldir Pires e foi derrotado. Portanto não retornou à Assembleia Legislativa, mas teve o cuidado de passar ao seu colega Nestor Duarte, o líder do PMDB, o projeto que ratificava os limites e criava o município de Dias D’Ávila.
Nestor aguardou o melhor momento e, quando o presidente da Assembleia, deputado Luiz Eduardo Magalhães, precisou de um acordo de lideranças para aprovar matéria do interesse de seu partido, o PDS, procurou Nestor Duarte para uma composição e este, em contrapartida, solicitou a aprovação do projeto de ratificação dos limites de Dias D’Ávila. Sem relutância, pois o empenho do presidente no momento estava centrado no projeto que provocara a tentativa de acordo, ele aceitou. E assim foi aprovada a ratificação de limites e criação do município por um simples acordo de lideranças e sem ir a plenário! Apesar de alguns deputados tentarem criar obstáculos reclamando inconstitucionalidade, o presidente, que tinha a necessidade do apoio da oposição e a autoridade conferida por seu pai, à época grande expoente político da Bahia, defendeu com veemência a aprovação solicitada por Nestor Duarte. Na verdade, se o projeto tivesse ido a plenário ― o que seria difícil ― é quase certo que não teria havido a emancipação, pois teria sido rejeitado ou engavetado pela falta de interesse dos políticos.
Faltava a publicação em Diário Oficial e a marcação do plebiscito. Isso foi conseguido graças a interferência do deputado Jairo Carneiro, na época chefe de gabinete e braço direito do governador João Durval, recém-eleito; ele enviou o texto da Lei para o Secretário de Comunicação, Aderbal Figueiredo, natural de Mata de São João, que o publicou imediatamente.
No dia 23 de junho de 1984, véspera de São João, foi publicada em Diário Oficial, e lida na praça principal, onde se realizava uma festa, a Lei que ratificava os limites da cidade e criava o município, incluindo a fabrica Caraíba Metais, gigante multinacional (na época estatal) da produção de cobre, que dava sustentação financeira e viabilizava a emancipação. O prefeito Humberto Ellery não poderia fazer mais nada, a não ser reunir seu gabinete e passar uma refinada descompostura em seus secretários por terem “dormido no ponto” em relação ao distrito.
O plebiscito foi marcado para o dia 25 de Novembro do mesmo ano de 1984, um domingo. Dias D’Ávila possuía em seu cadastro eleitoral, exatamente, três mil e quinhentos eleitores. A maior parte desses eram moradores de Salvador, veranistas que possuíam chácaras, algumas abandonadas, outras alugadas; muitos já haviam falecido; outros, oriundo de outros estados, teriam voltado à sua terra natal. Eram necessários 50% dos votos mais um, ou seja, mil setecentos e cinquenta e um votos. Era difícil!
Nesse período Mario Padre, um dos próceres do movimento emancipatório, emprestou-me duas bocas de alto-falantes, aqueles cornetões de ferro antigos, que montei sobre a capota de meu Fiat 147 e saí pelas ruas pedindo votos. Realizamos mais de 50 reuniões nas esquinas, dentro de galpões, nos bairros... afinal conseguimos conscientizar a população e onde antes havia resistência passamos a contar com poderosos aliados.
A prefeitura de Camaçari, sabedora dessa dificuldade colocou, no dia marcado para votação, alguns ônibus gratuitos e um churrasco patrocinado em Guarajuba, para quem quisesse participar do “domingo na praia”. A partida foi programada para antes do inicio do pleito. Como sabemos a eleição para plebiscito local não é obrigatória e, com isso, os prepostos de Camaçari esperavam um esvaziamento e, consequentemente, insuficiência do “quorum” para aprovar a emancipação.
A juíza eleitoral, Dra. Marielza, de Camaçari, tentou colocar inúmeros obstáculos para a votação, entre eles a negativa ao eleitor de poder exercer o voto com a carteira de identidade; isso quase foi o golpe de misericórdia para as pretensões da Sociedade, pois muitos dos eleitores não possuíam o título. Mas a Sociedade reagiu e o advogado Mozart Pedroza, juntamente com seu colega Renato Franco, ligou para o presidente do TRE, desembargador Ruy Trindade que, apesar de estar passando o seu domingo em lazer, mandou chamar a juíza ao telefone (naquela época não existia celular e isso ocorreu no QG da sociedade que era na na padaria de Gilson, hoje Dias D’Ávila Delicatessem), e passou-lhe uma descompostura autorizando o uso da carteira de identidade. Esse fato “salvou” a emancipação.
A mobilização de vários moradores foi grande! Tenho medo de citar nomes e ser injusto, esquecendo alguém; mas não podemos deixar de mencionar algumas pessoas que se desdobraram na trabalhosa lide e na ajuda. Além dos “Amigos de Dias D’Ávila” tiveram grande atuação no dia do plebiscito, os seguintes: Serrador e sua mãe, dona Todinha; Assis; Hélio Pozzi; Beth Silva; a Loja Maçônica Joir Brasileiro, hoje Colunas do Rio Imbassay; Geraldo Cordeiro; Edmundo Magalhães; o incansável Carlos Deiró; Moacir Duarte; Augusto Guiotti e o grupo GIF... e tantos outros que demonstraram o espírito de luta com o qual estava imbuída a população local. Os carros movimentavam-se pegando eleitores em todos os lugares, doentes, grávidas, banhistas no rio, frequentadores dos bares e botecos, gente que jogava dominó... às 16 horas, quase no fim da votação ainda faltavam muitos eleitores e estava muito difícil cumprir o quorum. Num esforço hercúleo, fechou-se o número de votantes em mil setecentos e setenta e cinco eleitores, que compareceram e votaram; apenas vinte e cinco a mais do que o mínimo necessário.
A contagem das cédulas deu-se logo após, na OCAFI. Obteve-se o quorum pela margem descrita com apenas dezesseis votos contrários. Foi uma das maiores emoções de que participei! Muitos choraram... vários discursaram...
Hoje, decorridos tantos anos observo os grupos políticos loucos para conseguirem estabelecer-se no poder, atacando aqueles que trabalharam por esse importante desfecho e que, bem ou mal, deixaram uma cidade que se situa entre as maiores da Bahia, para seus filhos, sua família e para o futuro. Não os questiono de minha parte e nem quero gratidão pelo que fiz, mas àqueles que já partiram para o Oriente Eterno dever-se-ia, pelo menos “in memoriam” serem exaltados pelos que compõe, principalmente, as gerações mais jovens. Mas infelizmente não é isso que vemos.
A Câmara, que levou vinte e cinco anos para fazer a primeira homenagem aos “remanescentes” e tão pouco tem contribuído no progresso municipal, deveria, quando nada, agraciá-los com o seu nome nas ruas e praças da cidade que ajudaram a fazer; mas, mesmo assim, quando nomeia-se uma rua — caso raro — com seus nomes, imediatamente acorre um batalhão de detratores que nunca estiveram presentes na história para denegri-los e atacá-los.


Homenagem da Câmara aos três remanescentes, José Osmar Muricy,
Fernando Gimeno e Gilson Galvão de Sousa, em 25 de fevereiro de 2010.

Pós-emancipação
No dia 25 de Fevereiro de 1985, ou seja, no ano seguinte e três meses após o plebiscito, foi promulgada a Lei que emancipava o município de Dias D’Ávila. Antes disso, a Sociedade Amigos de Dias D’Ávila — sempre ela — conseguiu através do desembargador Mário Albiani, incluir o nome da cidade na reforma do judiciário que se realizou em dezembro de 1984, elevando a cidade à comarca. Portanto uma curiosidade: Dias D’Ávila já nasceu comarca, pois a sua indicação se deu antes da publicação da lei em fevereiro de 1985. Anteriormente a Sociedade Amigos de Dias D’Ávila já havia conseguido a instalação da 25ª DP, tendo, por isso, sido a responsável por toda a implantação da parte política (executiva), administrativa (legislativa), judiciária e policial do município. E mesmo assim ainda não conseguiu agradar a alguns! E mais ainda, foi através da Sociedade que foi ao Desembargador Gerson Pereira dos Santos, na época presidente o Tribunal de Justiça e conseguiu a verba via Instituto Pereira Faustino de administração judiciária, a construção do prédio do Fórum que hoje funciona na Praça dos Três Poderes. Mesmo assim, não agradou a todos...
Espero que daqui para frente não venham mais com argumentos de que “devia ter mais industrias... ou devia ter uma praia”. Só fala isso quem recebeu a cidade de ‘mão beijada’ e não teve qualquer esforço para libertá-la. Críticas são muito bem vindas, principalmente quando incluem sugestões inteligentes para acrescentar algo, dentro de possibilidades reais e não especulações descabidas de lógica ou coerência. Abóboras genéricas como, por exemplo, “deveriam esperar para fazer a emancipação em outros momentos para ter mais indústrias”, ou “porque não pegaram outras fábricas e dividiram o Polo?” ou ainda “ah, ficamos sem nenhuma praia...”, poderiam até ser feitas, se viessem como contribuição para tentarmos algo no futuro; nunca, entretanto como cobrança pejorativa à memória daqueles que não mediram esforços na luta para construir uma cidade cidadã. Na verdade, é uma falta de inteligência achar que se poderia dividir o Polo, repartindo-o com Camaçari. Ai já deixa de ser inocência.
 Não quero louros sobre minha cabeça, mas quero o reconhecimento pelos heróis que partiram para o além, após tanta luta, muitas vezes sob o sorriso de escárnio daqueles que não ergueram suas sagradas “bundas” das cadeiras de sua inutilidade. Desculpem-me o desabafo, mas era importante fazê-lo para que fique registrado que, por problemas exclusivamente políticos, queiram manchar a memória póstuma dos que lutaram.
Isso serve de alerta ao povo para que reconheça a história de seu município sem a “inhaca” que advém das hostes alienadas do seu passado e, portanto, descompromissadas com o seu futuro.
1º aniversário da emancipação. Ao microfone Dr. Mozart Pedroza e Prof. Fernando Gimeno   
Prefeito Ayrton e vice Ditinho - hasteamento da bandeira 1º aniversário da emancipação

Da esquerda para a direita: Profª Altair, Gimeno. Osmar e Deiró - Lançamento do jornal O Imbassai
Sessão solene da Câmara - 1º aniversário da emancipação



Finalizando: Nesse mesmo ano, 1985, o Congresso Nacional extinguiu as eleições indiretas nas estâncias hidrominerais, nas áreas de segurança nacional e nas capitais, marcando-se para 15 de Novembro o pleito para a escolha dos prefeitos e vereadores; seria um mandato curto, de três anos.
Airton Carlos Nunes, falecido, que já havia sido administrador da estância foi eleito primeiro prefeito de Dias D’Ávila. A ele de seguiram até hoje: Dilton Bispo de Santana (falecido antes de terminar o mandato e substituído pelo presidente da Câmara, Claudio Cajado Sampaio, por motivo de seu vice-prefeito ter sido vítima de doença vindo também a falecer; Claudio ficou no mandato por sete meses); Andréia Xavier; Américo Maia, por dois mandatos consecutivos; Andréia Xavier, por dois mandatos (no total três) e Jussara Márcia por dois mandatos completam o ciclo até o momento.
Espero ter contribuído com o relato que agora apresento; tentei dessa forma sanar algumas dúvidas e esclarecer outros fatos... coloco-me à inteira disposição de qualquer pessoa para esclarecimentos maiores, desde que sejam motivados por um sentimento nobre e profícuo. Os que quiserem atacar a Sociedade Amigos de Dias D’Ávila ou promoverem-se à custa do trabalho alheio, prefiro que fiquem com suas opiniões e, para o futuro, tratem de trabalhar para não perderem o bonde da história. Torna-se de muito mau-gosto desdenhar um fato realizado por outrem como se fosse banal; lembra-me a fábula da raposa e das uvas: “estão verdes”!
A todos os outros deixo aqui meu e-mail: gimeno1947@gmail.com e meu telefone 71 99168-2485 para qualquer pergunta. A todos os diretores de colégio, professores ou estudantes, presidentes de Associações ou Grupos, Conselhos Comunitários e outros segmentos sociais, coloco-me à disposição para eventuais palestras, bastando para isso agendar o local, o dia e o horário.
Obrigado,
Fernando Gimeno
(Fergi Cavalca)
71 9168-2485




[1] Fonte: Wikipédia.
[2] Idem
[3] Muitas fontes citam o ano como 1510. Como não existem fontes perfeitamente confiáveis, vamos determinar a história do Caramuru juntando os fragmentos dessa “colcha de retalhos”.
[4] Algumas fontes dizem que o nome Catherine Du Brésil foi em homenagem a Catharina de Medici, rainha da França na época.
[5] Fonte: site oficial www.casadatorre.org.br .  
[6] idem
[7] Em Portugal, o rei D. José I tinha por ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, que na convicção que os jesuítas eram obstáculo aos seus planos, resolveu dar-lhes combate culpando-os da crise nas colônias, mandou prender a todos no Brasil e os meteu em cárcere em Portugal sem que tivessem defesa e de onde só puderam sair em 1777, com a ascensão de D. Maria I ao trono. Dos nove mil quatrocentos e sessenta encarcerados só restavam uns oitocentos. Em Portugal e nas cortes da Casa de Bourbon, muitos Jesuítas foram presos ou mesmo condenados a suplícios, como é o caso do padre Gabriel Malagrida, acusado no processo dos Távoras. Outros ingressaram no clero secular ou em outras ordens.
Na França, os jansenistas, galicanos e voltaireanos há muito queriam exterminar a Companhia, para isto valeram-se do caso do Padre La Valette. Este era procurador de uma casa de jesuítas na Martinica e deu-se a especulações comerciais contra todas as regras da ordem, pelo que dela foi expulso. No entanto, como devia pessoalmente grande soma, atribuíram a dívida à Companhia que se negou a pagar. O assunto foi ao parlamento que deu a alternativa: ou a Ordem se reconhecia culpada das acusações ou os jesuítas seriam exilados. Apesar dos protestos do episcopado francês e do próprio Papa, Luís XV também expulsou a Companhia da França em 1764. Foram promotores da expulsão o ministro absolutista Choiseul e madame Pompadour, cuja escandalosa presença na corte francesa era repudiada pelo Padre Perisseau, confessor do rei.
Em Espanha, o ministro de Carlos III, Aranda, intrigou os jesuítas com o rei acusando-os de defenderem a independência das colônias e de levantarem dúvida sobre a legitimidade do nascimento do rei. Mandou prender a todos os jesuítas em 1767. Por mais que o papa pedisse, o rei nunca lhe apresentou as razões do decreto.
Em Nápoles, o ministro Tanucci era mais forte que Fernando IV. Depois de dois anos de perseguição os desterrou para os Estados Pontifícios. Em Parma o marquês Tillot imperava tiranicamente e aos pedidos do papa respondeu com a expulsão dos jesuítas em 1768. No mesmo ano o grão-mestre dos cavalheiros de Malta os desterrou da ilha. Essas cortes juntaram-se na pressão sobre o Papado para suprimir a Companhia, ao que resistiu Clemente XIII.
O Papa Clemente XIV, embora bem intencionado, era indeciso e fraco, cedendo às pressões dos reis e principalmente da Espanha - através da bula Dominus ac Redemptor - obtida quase à força pelo embaixador espanhol Moniño, órgão central de quase todas as maquinações antijesuíticas, no período da supressão, extinguiu oficialmente a Companhia em 21 de julho de 1773. O Superior Geral da Companhia, Lorenzo Ricci, juntamente com os seus assistentes, foi feito prisioneiro no Castelo de Sant'Angelo, em Roma, sem julgamento prévio. Os demais foram obrigados a deixar a Ordem ao que obedeceram.
Como Papa Clemente XIV deixou a critério dos soberanos a publicação da bula, a czarina Catarina a Grande os conservou na Rússia e usou a ocasião para atrair para o seu país os membros da Companhia, gente de grande erudição, o mesmo se deu com Frederico da Prússia, na Silésia. Na altura da supressão havia cinco assistências, trinta e nove províncias, seiscentos e sessenta e nove colégios, duzentas e trinta e sete casas de formação, trezentas e trinta e cinco residências missionárias, duzentos e sessenta e três missões e mais de vinte e dois mil membros. Fonte: www.wikipedia.org.br.

[8] Segundo o próprio Pe. Camile Torrend, estas propriedades curativas das águas e das lamas do rio Imbassay, já constavam de antigos documentos do acervo jesuíta que pode ser, talvez, encontrado em prateleiras esquecidas e empoeiradas do Colégio Antônio Vieira, em Salvador.

[9] A Casa da Torre – Pedro Calmon.